tag:blogger.com,1999:blog-50990719592726206072024-02-08T09:06:32.499-08:00MEU DUPLOUnknownnoreply@blogger.comBlogger14125tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-42128827053428879772022-05-03T15:22:00.000-07:002022-05-03T15:22:41.664-07:00REDENÇÃO<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-pXM2PmTTS98/TcrmRh2rY1I/AAAAAAAAAEU/IHxd-Oz3Ols/s1600/reden%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a><span style="clear: left; cssfloat: left; float: left; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"> Uma chuva torrencial caía e ela estava sozinha naquela cidade estranha e imensa. Não tinha ninguém. Estava só, como sempre fora. Era apenas uma menina ruiva e perdida. Perdida na cidade, perdida dentro de si mesma. Sem rumo aparente. Não conhecia família, não conseguia imaginar um amigo que um dia a ouvira. Até seu cão a abandonara. Dormia ao relento e às vezes não comia nada. Em seu rosto um ar de melancolia, insatisfação e dor pareciam querer transbordar de dentro dela mesma. Porém, aprendera desde cedo a conter-se, a esconder sua tristeza e a calar sempre.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Seu corpo era extremamente magro e branco, muito branco...Sua fragilidade era tão intensa que aos poucos podíamos imaginar o seu desaparecimento. Era como se de repente pudesse ir se desmaterializando, se despedaçando, sumindo devagar... Bem devagar.... Até se tornar um espectro... Talvez fosse exatamente isso que ela era. Um espectro.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> No entanto, tinha olhos azuis. Lindos olhos azuis! Tão tristes e sem esperança, marejados de lágrimas naquele instante. Caminhava a esmo sem saber para onde. Não sabia onde estava e desconhecia tudo ao seu redor. Como fora chegar até ali? Não sabia. Seria uma cidade habitada? E ela? Existia mesmo? Tudo era real demais para ser ilusão... De novo não... Era real, ela sentia!</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> O que pôde observar é que ali morava algo que sempre temera, mas que agora não havia jeito de voltar. Não poderia retroceder... O medo a dominava, mas não era o medo dos homens ou dos perigos ocultos. Isso evitava ou encarara sem grandes dificuldades. Seu maior medo era o de si mesma. Um simples olhar no espelho a apavorava porque não conseguia enxergar-se. Onde estava mesmo? Melhor seria então, não olhar-se nem em espelhos ou em qualquer outro lugar que refletisse o pouco que ela poderia ser.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Caminhou vagarosamente até um beco escuro. A escuridão sempre a intrigara, pois exercia sobre ela um fascínio e temor inexplicável. Olhou ao redor e deitou-se. O chão frio e fétido já fazia parte do seu cotidiano. Ali, tentou dormir, mas seus olhos concentravam-se nas estrelas, que pareciam brilhar muito mais naquele momento. Fechava os olhos mas o sono não vinha. Em sua mente, os planos para uma nova existência começavam a tomar conta de sua imaginação. Teria o direito de sonhar? Poderia sequer imaginar uma vida ali? Seus pequenos sonhos poderiam ser concretizados? Ela também merecia. Merecia? Não sabia... Adormeceu, enfim...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> No outro dia, o sol apareceu cedo demais, iluminava tudo ao seu redor e então, a menina percebeu que era um novo dia que começara. Para ela, as mudanças iniciariam imediatamente. As mudanças sempre eram rápidas e fulminantes!</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Olhou para si, arrumou a roupa suja e amassada e foi procurar algo para comer nas lixeiras, acostumara-se ao lixo. Já não se tornara ela mesma um lixo humano? Aos poucos, pessoas caminhavam avidamente pelas ruas. Olhava-as em busca de um milagre. Ela acreditava ainda em milagres! Porém, nem sequer notavam sua presença, sua insignificância. O carinho que tantas vezes buscou novamente lhe era negado. Não teria ali também um lugar para ficar, muito menos um lar. Como pôde acreditar que algo poderia mudar? Só desejava um espaço só seu... onde não incomodasse ninguém, pois vivia só de pensamentos e ilusões. A ilusão sempre a salvara....</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Continuou a procurar algo que pudesse comer e não encontrou nada. O nada sempre fora a maior explicação de si mesma. Parecia que o tempo havia parado.... E ela já não existia mais. Os transeuntes passavam e não a viam ou fingiam não vê-la. Já estava acostumada a não ser notada, mas naquele instante, uma coragem avassaladora tomou conta de si mesma e ela gritou, gritou como quem está perdendo uma parte do seu corpo, como se algo a dividisse ao meio: “Eu existo, estou aqui, me olhem....”. “Eu sou alguém!” </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Que idiotice acreditar que ouviriam uma garota mal vestida, suja e descabelada gritando no meio da rua! Nada aconteceu... Só o silêncio....Seu companheiro fiel.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Olhou para os lados e pensou que era cedo demais para desistir. Afinal estava ali e era preciso dar continuidade ao mistério.... Ainda não perdera a fé. A dita fé que remove montanhas!!!! Ora, nem sequer sua fé foi capaz de torná-la alguém... de ser? Continuou a caminhar sem saber para onde. Já não pensava com exatidão...Procurava o que mesmo? Insistia em buscar algo que já havia perdido há muito tempo e que jamais seria restituído. Em seu íntimo algo lhe dizia que em breve encontraria seu caminho.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> O tempo passava e ela permanecia no mesmo lugar, estática, desorientada, estranha, fora de si... Nada havia mudado, absolutamente nada. Estava do mesmo jeito que ali chegara? Não... mudanças ocorriam dentro dela e isso ninguém poderia arrancar-lhe ou tirar-lhe. Isso lhe pertencia. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A chuva recomeçara com mais força e cada vez mais os pingos molhavam seu pequeno corpo, machucavam seu rosto... mas ela não se importava... ficou ali, paralisada, recebendo as gotas gélidas, que pareciam bênçãos do céu....</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Foi então que algo aconteceu... avistou ao longe uma imensa catedral, tão exuberante... tão perfeita, como ela jamais seria. Suas portas estavam abertas como se estivesse esperando por uma visita que logo chegaria. Algo a impeliu até lá. Meio amedrontada com a beleza do lugar e sua simplicidade, não tocava em nada, somente seus olhos observavam tudo. Avistou cortinas do tecido mais fino, chegou a sentar-se no banco mais confortável que já tivera a oportunidade de fazê-lo, viu também um piano. Como gostaria de saber tocar!!!! A música sempre conseguira aliviar a angústia de sua alma. Pelo menos por alguns instantes.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Em vários lugares via esculturas de madeira e de outros materiais que não saberia denominar. Várias imagens lhe chamaram a atenção, até que... até que sentiu como se naquele momento seu coração parasse. Bem ali, na sua frente havia a imagem de um homem simples, magro e pregado numa cruz. Quem era ele? Imaginou que seria o tal cristo que veio ao mundo para dar esperança às pessoas. Não era isso que a tal religião tanto pregava? Cadê então a sua esperança? </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Aproximou-se devagar, e sem entender os motivos, sentiu-se finalmente compreendida e reconfortada. Ajoelhou-se abruptamente e sem perceber as lágrimas vieram aos borbotões, mais as mais verdadeiras de sua triste vida. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Todos os seus pedidos foram ali depositados. Uma calma sobreveio sem nenhuma explicação. Ainda permaneceu ali e chorou... Não era o choro de desespero, de dor contida. Era choro de morte. De uma morta-viva! Levantou-se em seguida e foi embora. Não continha mais suas lágrimas.... mas rosto já se acostumara a elas...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A chuva não cessava e seu coração começou a bater acelerado. Uma angústia tomou conta do seu ser e uma idéia súbita e sombria lhe passou pela mente. Será? Avistou ao longe um mirante. Sentia-se compelida a ir até lá, como se algo a chamasse. Foi...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Ninguém a olhava, sequer percebiam a sua existência... Foi subindo os degraus bem devagar, como se tivesse que cumprir um ritual.... Sua cabeça doía, como se algo a estivesse esmagando. Náuseas tomavam conta dela e as vertigens pareciam aumentar a cada passo que dava. Não poderia voltar mais. Era importante ir até o fim.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Chegou finalmente no topo, o lugar mais alto que já estivera na vida. De lá pôde ver a cidade inteira. Fixava seu olhar em vários pontos por alguns minutos e divagava...Tudo era intenso dentro dela. Sofria de excesso sempre lhe disseram, mas o excesso era tudo o que tinha de melhor em si mesma.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A noite chegara e a chuva não cessava. Seus olhos brilhavam ao ver a cidade iluminada. Aquela imensidão de luz a atraía cada vez mais...Queria fazer parte dela! A chuva aumentava, molhava seu rosto, seu corpo rodopiava de felicidade. Ela nem sabia o que era felicidade. Só sentiu que era bom estar no alto e enxergar de lá toda a cidade brilhando, reluzente, única. Enfim sua... Sua cidade! Agora descobrira também o que era alegria. Ria... ria... e seu sorriso pela primeira vez era verdadeiro. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Depois da euforia inicial, aproximou-se das grades que a protegiam, olhou para baixo, depois para o céu escuro... foi um olhar lento e demorado..... Seu corpo virou-se, mas já não queria enxergar mais nada... nem cidade... nem luzes brilhando.... Seus lábios ainda sorriam, como se estivesse agora completa. Tocou levemente nas grades, segurou-as com firmeza e resolução. Eram baixas e nelas se encostou para receber a chuva que não parava nunca... As grades já não a protegiam mais de perigo algum, nem dela mesma... O medo dissipara-se por completo. Aos poucos, tudo fora se tornando insignificante diante de sua mais importante decisão. </span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Olhou para o céu uma última vez e já não viu estrelas... Em um instante precipitou-se no ar de braços abertos. Poucos momentos de felicidade tivera, mas enfim descobrira o seu destino...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span>Tania Barros <br />
<div class="separator" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-pXM2PmTTS98/TcrmRh2rY1I/AAAAAAAAAEU/IHxd-Oz3Ols/s1600/reden%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; cssfloat: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-22454439895121859472022-05-03T15:21:00.000-07:002022-05-03T15:21:46.188-07:00Mário<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Há dias eu não
levantava da cama. Ali, naquele quarto eu apenas pensava, pois nem mexer meu
corpo eu podia. Havia necroses por todo lugar... O tempo só me causara feridas
que não cicatrizavam... E eu sabia que mais nada poderia ser feito embora
recebesse a todo momento aquelas "doces" mensagens de consolação que
mais me irritavam que alegravam. O que pensavam? Que eu não enxergava meu
próprio corpo se desintegrando aos poucos? Como manter a esperança quando o seu
cheiro é insuportável até para você mesmo? Já não ouso olhar-me no espelho... Me
ver é como enxergar um fantasma repugnante...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Como eu chegara
até aqui? Por que ainda estava vivo? Por quê? Sentia a cada dia que as
pessoas se aproximavam menos de mim, outras nem entravam mais no aposento. Eu, porém, não permitia que as
janelas fossem abertas. Elas deviam permanecer fechadas. Hermeticamente
fechadas... Eu queria sentir a minha própria morte. Queria ver a decomposição
lenta do meu próprio ser. Não sabia exatamente os motivos, mas eu deveria
passar por isso como um calvário. Eu não deveria questionar... Simplesmente
aceitar.<br />
Não permiti mais que me alimentassem, queria acelerar o processo. As pessoas me
olhavam assustadas, mas com um agradecimento no olhar. Aquele quarto pertencia
somente a mim. O cheiro fétido estava impregnado em tudo, principalmente nos
lençóis que recebiam as excreções de minha pele quase podre. Eram lavados
diariamente, mas logo resolvi que não deveriam ser mais tirados dali... Tudo
deveria acabar logo e eu deveria sofrer profundamente a dor que em aguardava.
Essa dor era só minha ... E necessária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Minhas refeições
eram colocadas em cima da mesa todos os dias e ali ficavam. Eu não sentia mais
o sabor. Há o sabor! Nem o sabor da vida eu soubera aproveitar, se é que existe
como pregam as pessoas felizes... Eu sempre preferira o lado oposto da
alegria... Eu escolhera a solidão como companheira e não me arrependia... Nem
na hora da minha morte eu iria me arrepender!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Todos os meus
amigos desapareceram. Não senti falta, pois seus olhos piedosos me deixavam
muito aflito e ansioso. Sozinho eu sentia minhas carnes se soltando do corpo e
a morte não chegava. Como ansiava a sua presença! Como a desejava! Os lençóis
já estavam insuportáveis e terrivelmente sujos, assim como eu me sentia. Os
remédios acalmavam um pouco a minha dor, apenas a dor física. A pior era que eu
sentira sempre dentro de mim e pra essa eu sabia que não existiam remédios.<br />
Cansado de esperar e num ato de
desespero, tirei minhas ataduras e encarei minhas feridas de frente. Vi o
sangue jorrar, as inflamações amareladas finalmente saíam de dentro da minha
carne e senti o cheiro extremamente desagradável de mim mesmo... De um morto
vivo. Sem querer comecei a esbravejar e chamar pela morte: venha logo, não
suporto mais. O que mais quer de mim?<br />
Um vulto apareceu e eu o
reconheci logo no início. Aproximou-se da cama, mas não me tocou. Olhou-me com
pena e lágrimas nos olhos. Exclamei: - Vá embora, não quero você aqui. Veio
assistir minha desgraça? Ela é só minha e eu desejo ficar só. Saia, Mário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">No entanto, ele
ali permaneceu. Seu olhar terno me incomodava. Nem uma palavra saiu da sua
boca, mas a sua presença me deixava agitado. Toda aquela perfeição me fazia ver
no que eu havia me transformado e eu não queria mais ver nada... O que vira já
me bastava. Tentava me mexer, mas não comandava mais aqueles pedaços de corpo
que insistiam em manter-se unidos...<br />
Meus olhos foram se fechando e eu senti então uma mão tocando levemente as
minhas. Senti paz naquele momento. Foi o único instante de paz na minha vida
inteira. Não vi se Mário estava ali ou se tinha ido embora. Talvez quisesse
presenciar a última gota de agonia de um moribundo ou tivesse, de verdade, pena
de mim. Eu não acreditava muito na segundo hipótese, mas parecia ser a mais
conveniente. Meus pensamentos foram parando devagar e senti meu corpo
amortecendo... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Finalmente... Ela
chegara. Fechei meus olhos e agradeci.<br />
Estava na hora de receber a alimentação do dia. Embora o doente não se
alimentasse, a velha tia Antônia nunca deixara de colocar suas
refeições sobre a mesa. Nesse dia, não esperava ver o que viu. Assustou-se ao
olhar o rosto: não havia mais feridas, estavam cicatrizadas. O corpo... Esse
não mudara... era apenas ossos que seguravam um cadáver. Levemente tapou o
corpo com o cobertor e foi dar a notícia aos demais. Entrou na sala
lacrimejando... Falou mansamente:<br />
- Mário acabou de morrer. Finalmente vai descansar em paz!<br />
<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><span style="letter-spacing: 1.2pt; text-transform: uppercase;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-16953680478775828142022-05-03T15:19:00.000-07:002022-05-03T15:19:46.220-07:00Escrevo sem saber o que dizer. E por não saber o que dizer, escrevo. Liberto-me nas palavras, pois é a única liberdade que conheço. Lá fora chovia torrencialmente e o frio estava insuportável. Eu não podia mais faltar ao trabalho, mesmo que essa fosse a minha maior vontade. Lentamente levantei, me arrumei, peguei meus materiais, o guarda-chuva e saí. Era preciso dar continuidade à vida. Era preciso coragem e eu covardemente fui. Enquanto caminhava, deixava que alguns pingos de chuva caíssem em mim e me lembrassem que eu ainda estava viva. Meus passos não eram firmes há muito tempo, eles vacilavam a cada instante como se me levassem para uma prisão. A vida não poderia ser o acordar, levantar, trabalhar e voltar para casa... Não poderia ser uma sucessão de acontecimentos diários que quase não tinham significado... A vida não podia ser o aguardar a semana e a ânsia pelo sábado e domingo. Talvez fôssemos todos Sisífos e essa era nossa grande tragédia. Há sempre as perguntas sem respostas e as dúvidas que só aumentam. Há sempre o perigo de não poder mais voltar. Há sempre o medo de descobrir que a grande pergunta só pode ser respondida por você. Há sempre o temor de já se saber a resposta e adiá-la por uma vida inteira. Os relógios pareciam ter parado porque cada minuto parecia um dia perdido.<br />
<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-19142488304884795942022-05-03T15:17:00.000-07:002022-05-03T15:17:36.655-07:00A CHEGADAUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-15494130349601324352012-08-25T09:45:00.001-07:002022-05-03T15:20:13.079-07:00Persona<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Ela passara o dia com febre e dor de cabeça. Ficou no quarto com as janelas trancadas sem que um raio de luz penetrasse naquele ambiente. Tudo estava sombrio e triste. Dentro de si só aquela sensação de impotência diante da vida. Só enxergava impossibilidades. Aproveitara o tempo para ler, mas os pensamentos fugitivos teimavam em surgiu e os parágrafos eram lidos e relidos sem nenhuma compreensão. Tentou ver um filme, mas nada a agradava. Mexendo no armário, encontrou uma cópia antiga de “Persona” e lembrou que ainda não tinha visto esse famoso filme de Bergman. Toda a casa ficou na escuridão, agora. A televisão foi ligada e o único som era do inebriante drama. Logo entendera a atriz que se cala, logo se identificou com a capacidade de calar quando todos gritam, logo compreendeu que ela também era uma personagem. Enquanto o filme rodava, seus olhos permaneciam fixos na tela e não conseguia ao menos fazer um movimento. Tudo aquilo era tão, tão... Tão seu. Era melhor calar que fingir? Encontraria uma Alma que pudesse salvá-la? Só conseguia fixar-se ora em uma personagem ora em outra, até as duas se confundirem numa mesma personalidade. Ela já sabia que dentro de si habitavam mais de um ser. Seria esse o eterno tormento do homem? Quem sou eu? Em qual momento estou sendo eu? Tantas vezes fizera essas mesmas perguntas. Tantas vezes chegara à mesma conclusão. Essa era a grande pergunta sem resposta. O filme acabara e ela continuava ansiosa. Pelo que tanto ansiava? Que desejo era esse que não se nominava? Levantou-se da cama, trocou rapidamente de roupa, lavou o rosto. Olhou-se demoradamente no espelho... Quem era esse ser que relutava tanto em existir? Quem era ela, afinal? Queria poder conter os pensamentos e fugir. Fugir pra onde? De que estava ela fugindo? Sempre fugindo... Colocou um sapato e saiu. Ao colocar os pés para fora da casa era como se o mundo se abrisse todo para engoli-la ferozmente. A angústia continuava e seus passos começaram a ser mais e mais rápidos. Sem rumo, quase corria. Evitava pensar. Era preciso não pensar e ir. Somente ir. Já estava muito longe de casa, os prédios foram ficando para a trás. Ela tinha se afastado de quase tudo. Chagava agora num lugar inóspito e sentia medo. Não poderia ter se perdido. Pedida. Sempre fora uma perdida, concluiu. Olhava para os lados e não via ninguém. De novo, sozinha. Solitária como sempre fora. O sol começava a arder e sua cabeça latejava. Procurou um local para sentar-se e não encontrou nada que a agradasse. Sentou-se ali mesmo e sentiu que a terra estava quente. Procurou afastar alguns pedaços de madeira e lixo que estavam jogados e sem querer sua mão tocou em algo inesperado. Olhou. Era uma pequena plantinha que surgia. Em meio à sujeira, um ser estava nascendo. Folhas pequeninas e verdes comaçavam a brotar. Ela aproximou-se, seus olhos quase podiam sentir a textura do que ainda não era. Do que estava para vir a ser. A mão esquerda, enfim, tocou no broto que lutava para existir. Ela entrou em êxtase. Ela sentia a vida no simples toque dos dedos. Sentia a necessidade de tocar não só com as mãos, mas com os lábios. Sentia a grande vontade de comer aquilo que em breve desabrocharia. Ela queria devorá-la, mastigá-la, engoli-la com todo o seu amor e fúria. Com os olhos ainda fechados e com delicadeza foi apertando o vegetal entre os dedos. Sentia cada pedaço se decompondo e caindo no chão seco. Por fim, num último ato, puxou o lixo misturado com a terra e cobriu a planta morta como se fosse um cadáver. Ela era uma assassina. Levantou-se, o sol ainda alto, caminhou devagar de volta para casa. Estava leve e livre. Uma grande alegria tomou conta do seu ser. Ela tinha matado pela primeira vez.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-pBBIe42Y4Hg/UDkAoNf1L4I/AAAAAAAAAFw/l4_KsLhf_mY/s1600/Untitled-10-copy2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="301" src="https://4.bp.blogspot.com/-pBBIe42Y4Hg/UDkAoNf1L4I/AAAAAAAAAFw/l4_KsLhf_mY/s320/Untitled-10-copy2.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<span style="line-height: 115%;"></span><br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: large;">Tania Barros </span></span></span></div>
<span style="line-height: 115%;">
</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-40411545520281157302012-08-11T07:02:00.003-07:002022-05-03T15:17:22.549-07:00Ela,Ela acordou cedo como todos os dias e foi trabalhar. A manhã passou como se o tempo estivesse suspenso. Na mente aquela vontade de fugir dali, de sair correndo sem rumo ou de gritar, gritar tão alto que seria ouvida. O que gritaria? Não importa. O grito é que era urgente. O grito seria a sua manifestação de desespero, de contrariedade. O grito, talvez, a libertaria. Não era a liberdade dos compromissos corriqueiros que ela desejava. Ela queria mais. Ela ardia por libertar-se de si mesma. Enfim, acabara as horas do disfarce e enfim voltava para casa. Ansiava por abrir a porta e encontrar um espaço em que poderia ao menos tentar tirar as máscaras e tentar ser ela própria. Mas quem era ela? Quem era aquela mulher que se olhava no espelho todos os dias e não se reconhecia? Sentia novamente aquela sensação de não pertencer ao mundo. Ahhhh, ela queria tanto pertencer! Ela queria tanto parar de pensar e ver as coisas simples com alegria. No entanto, todo o seu ser estava tomado de uma profunda tristeza, de um cansaço inominável. Era cansativo insistir. Era dolorido viver e apesar disso, ela vivia. Ela vivia. Ela insistia. A casa pedia uma arrumação, mas o que ela desejava era organizar-se por dentro. Tomou um banho quente, deixando a água escorrer pelo rosto com força e pelo corpo com delicadeza. Ela apreciava o desequilíbrio, as contrariedades, os opostos... Depois, colocou o velho pijama e andou pela casa como se a desconhecia. Não tinha fome. Não de alimentos. Sua fome era de vida.. Ela desejava, desejava... Tinha um vulcão dentro de si. Como acalmá-lo? Como não fazer com que transborde sem nem um aviso, assim... de repente? Tinha conseguido até agora. Ou tinha sempre fingido? Fingir tornou-se sua melhor virtude e seu melhor disfarce. Até quando? Tudo começava a pesar. Carregava o peso de ser. Mas o que era? Enfim, tomou a decisão. Foi até o quarto, pegou os comprimidos e logo sentiu-se anestesiada. Iria dormir por horas e os pensamentos seriam silenciados. Seu corpo se acalmaria, o coração pararia de bater acelerado e a dor seria por horas esquecida. Tudo recomeçaria, ao abrir os olhos. Porém, agora, eles estavam fechados para o mundo.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-71002194695147742412012-07-19T11:08:00.002-07:002022-05-03T15:20:32.129-07:00O DESCONHECIDO<br />
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Saí de casa sem um destino determinado. Resolvi caminhar
pelas ruas, pois muita coisa deveria ter mudado durante meu afastamento
involuntário. Estava curiosa e apreensiva. Saberia eu lidar com a nova
realidade? Saberia esquecer o que passei e recomeçar? Não havia mais
certezas... Se o instinto de sobrevivência sempre prevalece, então nada mais me
restava senão aceitar a minha vida e seguir adiante aos tropeços. O tratamento
acabara e eu fora considerada capaz de retomar a antiga existência fútil e cada
vez mais pesada. Eu era considerada normal. Na minha cabeça as perguntas de
sempre iam e viam. No entanto, eu tinha aprendido a fingir e sorria, sorria,
sorria... <o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Resignada, eu conseguira minha liberdade fora daquela prisão que já não suportava. Novos caminhos precisavam ser trilhados e eu estava disposta a recomeçar. Por que não um passeio solitário?</span></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> Caminhei a esmo pelas ruas que me eram completamente
estranhas, os transeuntes pareciam feitos de bruma, de algum material inerte.
Apenas eu me via! Parei um instante para contemplar o que antes me era tão
conhecido e que agora fazia parte de algo que não sei se era real. Terá sido
apenas sonho?</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
Andei mais depressa como se fugisse de algo... Como se fosse possível deter
meus pensamentos tão confusos. Quase corro...</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
De repente, alguém passa por mim e eu descubro que posso ser percebida. Nós
dois paramos e nossos olhos se encontraram. Durante longo tempo eu tentara sair
dali, mas seus olhos me fitavam com um ardor e uma profundidade jamais sentida.
Aquele homem mal vestido, com cabelos desgrenhados, dentes amarelados e mau
cheiro conseguia penetrar no mais íntimo do meu ser. Ele me atingia como um
soco no estômago. Ele me observava como quem analisa um ser inanimado. Era isto
que eu era? Eu me sentia mesmo um ser abstrato. Ele conseguia captar minha alma
e eu tinha medo.</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
Sentia medo de quê? Não sabia. Mas meu coração pulsava cada vez mais forte e
meu corpo permanecia ali, inerte, como se já não pudesse me obedecer. Palavras
não foram ditas, não precisava. Nós nos entendíamos pelo olhar, que cada vez se
tornava mais perturbador... Eu queria sair dali, não suportava mais aqueles
olhos... Aqueles olhos me aprisionavam...</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
Eu estava estática, nenhum movimento me era permitido, aqueles olhos... Não
conseguia parar de olhá-los, não desviava meu olhar por nenhum segundo
sequer daquele homem. Era como se nós dois nos completássemos. Como se o que
vivi pertencia de alguma forma a ele também.</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
De repente, vozes me chamam, olho para trás mas não vejo sinal de qualquer pessoa. Volto
rapidamente meu olhar para o desconhecido, mas ele já não se encontrava lá.
Desaparecera em segundos e me vi novamente só. Olhei para todos os lados na
esperança de revê-lo, mas foi em vão.</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
Resolvi voltar, a caminhada já fora suficiente por aquele dia. Havia
recomendações para eu não me exceder. Cheguei em casa depressa, abri a porta e
entrei no meu quarto, meu refúgio particular. A imagem daquele homem
não saía da minha cabeça...</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">
Ao tirar a roupa, senti um calafrio percorrer meu corpo,
como se estivesse sendo observada naquele exato momento. Fui até o espelho, vi
um reflexo que me fez estremecer de horror...<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;"> Aproximei-me e lá
estava ele, olhando novamente para mim. Fitava-me fixamente como se pudesse
enfim preencher o meu vazio. Percebi naquele instante que meu destino estava
traçado e que jamais eu conseguiria me libertar daqueles olhos inquisidores
porque eles me pertenciam.</span><o:p></o:p></div>
<div style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , sans-serif;">Tania
Barros</span><o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-92168442743030472942012-07-16T11:00:00.002-07:002022-05-03T15:21:06.625-07:00Ela já não sabia mais o que esperar da vida. Tinha o que esperar de algo ou alguém? Ela sempre fora sozinha e perdida. Perdida dentro e dora de si. Não se cansava de perguntar. Não se cansava de achar respostas. Não se cansava de não encontrar algumas respostas. Era incansável na sua triste alegria de viver. Tudo girava em torno de uma busca de sentido. Um sentido de quê? Pra quê? Pra onde? Haveria um sentido ou era simplesmente deixar a respiração acontecer? Viver, apenas. Ainda não conseguia. Era preciso seguir adiante até a calmaria chegar. Se é que chegaria um dia. Tudo era turbulência dentro de si e ansiava pela tranquilidade dos normais por alguns instantes. Só por instantes. A normalidade a enojava. Era preciso deixar o caos dominar o corpo e a mente para então conhecer-se. Era preciso perder-se para encontrar-se. Era preciso deixar-se ser.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-85398302106525777372012-07-15T07:11:00.003-07:002022-05-03T15:22:19.727-07:00MÁRIO<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Há dias eu não
levantava da cama. Ali, naquele quarto eu apenas pensava, pois nem mexer meu
corpo eu podia. Havia necroses por todo lugar... O tempo só me causara feridas
que não cicatrizavam... E eu sabia que mais nada poderia ser feito embora
recebesse a todo momento aquelas "doces" mensagens de consolação que
mais me irritavam que alegravam. O que pensavam? Que eu não enxergava meu
próprio corpo se desintegrando aos poucos? Como manter a esperança quando o seu
cheiro é insuportável até para você mesmo? Já não ouso olhar-me no espelho... Me
ver é como enxergar um fantasma repugnante...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Como eu chegara
até aqui? Por que ainda estava vivo? Por quê? Sentia a cada dia que as
pessoas se aproximavam de mim cada vez menos, mas eu não permitia que as
janelas fossem abertas. Elas deviam permanecer fechadas. Hermeticamente
fechadas... Eu queria sentir a minha própria morte. Queria ver a decomposição
lenta do meu próprio ser. Não sabia exatamente os motivos, mas eu deveria
passar por isso como um calvário. Eu não deveria questionar... Tinha chegado a minha vez de aceitar sem perguntas.<br /> Não permiti mais que me alimentassem, queria acelerar o processo. As pessoas me
olhavam assustadas, mas com um agradecimento no olhar. Aquele quarto pertencia
somente a mim. O cheiro fétido estava impregnado em tudo, principalmente nos
lençóis que recebiam as excreções de minha pele quase podre. Eram lavados
diariamente, mas logo resolvi que não deveriam ser mais tirados dali... Tudo
deveria acabar logo e eu deveria sofrer profundamente a dor que me aguardava.
Essa dor era só minha ... E necessária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Minhas refeições
eram colocadas em cima da mesa todos os dias e ali ficavam. Eu não sentia mais
o sabor. Há o sabor! Nem o sabor da vida eu soubera aproveitar, se é que existe
como pregam as pessoas felizes... Eu sempre preferira o lado oposto da
alegria... Eu escolhera a solidão como companheira e não me arrependia... Nem
na hora da minha morte eu iria me arrepender!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Todos os meus
amigos desapareceram. Não senti falta, pois seus olhos piedosos me deixavam
muito aflito e ansioso. Sozinho eu sentia minhas carnes se soltando do corpo e
a morte não chegava. Como ansiava a sua presença! Como a desejava! Os lençóis
já estavam insuportáveis e terrivelmente sujos, assim como eu me sentia. Os
remédios acalmavam um pouco a minha dor, apenas a dor física. A pior era que eu
sentira sempre dentro de mim e pra essa eu sabia que não existiam mais medidas paliativas.<br />
Cansado de esperar e num ato de
desespero, tirei minhas ataduras e encarei minhas feridas de frente. Vi o
sangue jorrar, as inflamações amareladas finalmente saíam de dentro da minha
carne e senti o cheiro extremamente desagradável de mim mesmo... De um morto
vivo. Sem querer comecei a esbravejar e chamar pela morte: venha logo, não
suporto mais. O que mais quer de mim?<br />
Um vulto apareceu e eu o
reconheci logo no início. Aproximou-se da cama, mas não me tocou. Olhou-me com
pena e lágrimas nos olhos. Exclamei: - Vá embora, não quero você aqui. Veio
assistir minha desgraça? Ela é só minha e eu desejo ficar só. Saia, Mário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-9zyrsBMUlZ4/UALSkw19CTI/AAAAAAAAAFc/GsxSgfSNP4g/s1600/123701_8_600.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://3.bp.blogspot.com/-9zyrsBMUlZ4/UALSkw19CTI/AAAAAAAAAFc/GsxSgfSNP4g/s320/123701_8_600.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">No entanto, ele
ali permaneceu. Seu olhar terno me incomodava. Nem uma palavra saiu da sua
boca, mas a sua presença me deixava agitado. Toda aquela perfeição me fazia ver
no que eu havia me transformado e eu não queria mais ver nada... O que vira já
me bastava. Tentava me mexer, mas não comandava mais aqueles pedaços de corpo
que insistiam em manter-se unidos...<br /> Enfim, meus olhos foram se fechando e eu percebi que uma mão me tocava levemente. Senti paz naquele momento. Foi o único instante de paz na minha vida
inteira. Não vi se Mário estava ali ou se tinha ido embora. Talvez quisesse
presenciar a última gota de agonia de um moribundo ou tivesse, de verdade, pena
de mim. Eu não acreditava muito na segundo hipótese, mas parecia ser a mais
conveniente. Há tempos eu tinha aprendido o valor da conveniência e a rejeitar qualquer tipo de convicção. De repente, meus pensamentos foram parando devagar e senti meu corpo
amortecendo... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Finalmente... Ela
chegara. Eu estava morto e eu agradeci.<br /> As horas foram passando e na casa quase não se ouvia ruído algum. Ninguém queria perturbar o pobre doente. Não esqueciam de levar ao quarto o alimento do dia, mesmo que essa não era consumida. A velha tia Antônia, sempre com o terço na mão, nunca deixava de colocar as refeições sobre a mesa e de fazer orações intermináveis pedindo a cura do convalescente. Em vão, ela rezava.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Nesse dia, não esperava ver o que viu. Assustou-se ao
olhar o rosto: não havia mais feridas, estavam cicatrizadas. O corpo... Esse
não mudara... era apenas ossos que seguravam um cadáver. Não controlou o choro e por minutos abraçou o que restava do cadáver. Quando a lamentação acabara, levemente tapou o
corpo com o cobertor e foi dar a notícia aos demais. Entrou na sala ainda lacrimejando... Falou mansamente:<br />
- Mário acabou de morrer. Finalmente vai descansar em paz!<br />
<br />
Tania Barros</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-25433944311570739972012-07-14T06:40:00.002-07:002019-09-27T14:16:16.688-07:00UM LUGAR PARA REPOUSAR<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.2pt; margin-bottom: 9.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-72097999575238464222011-05-11T12:51:00.001-07:002022-05-03T15:23:02.168-07:00REDENÇÃO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-4rb1t8AFwxY/TcrorkmEtnI/AAAAAAAAAEY/0UsnHCE8JNs/s1600/reden%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="244" j8="true" src="http://4.bp.blogspot.com/-4rb1t8AFwxY/TcrorkmEtnI/AAAAAAAAAEY/0UsnHCE8JNs/s320/reden%25C3%25A7%25C3%25A3o.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Uma chuva torrencial caía e ela estava sozinha naquela cidade estranha e imensa. Não tinha ninguém. Estava só, como sempre fora. Era apenas uma menina ruiva e perdida. Perdida na cidade, perdida dentro de si mesma. Sem rumo aparente. Não conhecia família, não conseguia imaginar um amigo que um dia a ouvira. Até seu cão a abandonara. Dormia ao relento e às vezes não comia nada. Em seu rosto um ar de melancolia, insatisfação e dor pareciam querer transbordar de dentro dela mesma. Porém, aprendera desde cedo a conter-se, a esconder sua tristeza e a calar sempre.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Seu corpo era extremamente magro e branco, muito branco... Sua fragilidade era tão intensa que aos poucos podíamos imaginar o seu desaparecimento. Era como se de repente pudesse ir se desmaterializando, se despedaçando, sumindo devagar... Bem devagar.... Até se tornar um espectro... Talvez fosse exatamente isso que ela era. Um espectro.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> No entanto, tinha olhos azuis. Lindos olhos azuis! Tão tristes e sem esperança, marejados de lágrimas naquele instante. Caminhava a esmo sem saber para onde. Não sabia onde estava e desconhecia tudo ao seu redor. Como fora chegar até ali? Não sabia. Seria uma cidade habitada? E ela? Existia mesmo? Tudo era real demais para ser ilusão... De novo não... Era real, ela sentia!</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> O que pôde observar é que ali morava algo que sempre temera, mas que agora não havia jeito de voltar. Não poderia retroceder... O medo a dominava, mas não era o medo dos homens ou dos perigos ocultos. Isso evitava ou encarara sem grandes dificuldades. Seu maior medo era o de si mesma. Um simples olhar no espelho a apavorava porque não conseguia enxergar-se. Onde estava mesmo? Melhor seria então, não olhar-se nem em espelhos ou em qualquer outro lugar que refletisse o pouco que ela poderia ser.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Caminhou vagarosamente até um beco escuro. A escuridão sempre a intrigara, pois exercia sobre ela um fascínio e temor inexplicável. Olhou ao redor e deitou-se. O chão frio e fétido já fazia parte do seu cotidiano. Ali, tentou dormir, mas seus olhos concentravam-se nas estrelas, que pareciam brilhar muito mais naquele momento. Fechava os olhos mas o sono não vinha. Em sua mente, os planos para uma nova existência começavam a tomar conta de sua imaginação. Teria o direito de sonhar? Poderia sequer imaginar uma vida ali? Seus pequenos sonhos poderiam ser concretizados? Ela também merecia. Merecia? Não sabia... Adormeceu, enfim...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> No outro dia, o sol apareceu cedo demais, iluminava tudo ao seu redor e então, a menina percebeu que era um novo dia que começara. Para ela, as mudanças iniciariam imediatamente. As mudanças sempre eram rápidas e fulminantes!</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Olhou para si, arrumou a roupa suja e amassada e foi procurar algo para comer nas lixeiras, acostumara-se ao lixo. Já não se tornara ela mesma um lixo humano? Aos poucos, pessoas caminhavam avidamente pelas ruas. Olhava-as em busca de um milagre. Ela acreditava ainda em milagres! Porém, nem sequer notavam sua presença, sua insignificância. O carinho que tantas vezes buscou novamente lhe era negado. Não teria ali também um lugar para ficar, muito menos um lar. Como pôde acreditar que algo poderia mudar? Só desejava um espaço só seu... onde não incomodasse ninguém, pois vivia só de pensamentos e ilusões. A ilusão sempre a salvara....</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Continuou a procurar algo que pudesse comer e não encontrou nada. O nada sempre fora a maior explicação de si mesma. Parecia que o tempo havia parado.... e ela já não existia mais. Os transeuntes passavam e não a viam ou fingiam não vê-la. Já estava acostumada a não ser notada, mas naquele instante, uma coragem avassaladora tomou conta de si mesma e ela gritou, gritou como quem está perdendo uma parte do seu corpo, como se algo a dividisse ao meio: “Eu existo, estou aqui, me olhem....”. “Eu sou alguém!” </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Que idiotice acreditar que ouviriam uma garota mal vestida, suja e descabelada gritando no meio da rua! Nada aconteceu... Só o silêncio.... Seu companheiro fiel.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Olhou para os lados e pensou que era cedo demais para desistir. Afinal estava ali e era preciso dar continuidade ao mistério.... Ainda não perdera a fé. A dita fé que remove montanhas!!!! Ora, nem sequer sua fé foi capaz de torná-la alguém... De ser? Continuou a caminhar sem saber para onde. Já não pensava com exatidão... Procurava o que mesmo? Insistia em buscar algo que já havia perdido há muito tempo e que jamais seria restituído. Em seu íntimo algo lhe dizia que em breve encontraria seu caminho.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> O tempo passava e ela permanecia no mesmo lugar, estática, desorientada, estranha, fora de si... Nada havia mudado, absolutamente nada. Estava do mesmo jeito que ali chegara? Não... Mudanças ocorriam dentro dela e isso ninguém poderia arrancar-lhe ou tirar-lhe. Isso lhe pertencia. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A chuva recomeçara com mais força e cada vez mais os pingos molhavam seu pequeno corpo, machucavam seu rosto... Mas ela não se importava... Ficou ali, paralisada, recebendo as gotas gélidas, que pareciam bênçãos do céu....</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Foi então que algo aconteceu... Avistou ao longe uma imensa catedral, tão exuberante... tão perfeita, como ela jamais seria. Suas portas estavam abertas como se estivesse esperando por uma visita que logo chegaria. Algo a impeliu até lá. Meio amedrontada com a beleza do lugar e sua simplicidade, não tocava em nada, somente seus olhos observavam tudo. Avistou cortinas do tecido mais fino, chegou a sentar-se no banco mais confortável que já tivera a oportunidade de fazê-lo, viu também um piano. Como gostaria de saber tocar!!!! A música sempre conseguira aliviar a angústia de sua alma. Pelo menos por alguns instantes.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Em vários lugares via esculturas de madeira e de outros materiais que não saberia denominar. Várias imagens lhe chamaram a atenção, até que... Até que sentiu como se naquele momento seu coração parasse. Bem ali, na sua frente havia a imagem de um homem simples, magro e pregado numa cruz. Quem era ele? Imaginou que seria o tal cristo que veio ao mundo para dar esperança às pessoas. Não era isso que a tal religião tanto pregava? Cadê então a sua esperança? </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Aproximou-se devagar, e sem entender os motivos, sentiu-se finalmente compreendida e reconfortada. Ajoelhou-se abruptamente e sem perceber as lágrimas vieram aos borbotões, mais as mais verdadeiras de sua triste vida. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Todos os seus pedidos foram ali depositados. Uma calma sobreveio sem nenhuma explicação. Ainda permaneceu ali e chorou... Não era o choro de desespero, de dor contida. Era choro de morte. De uma morta-viva! Levantou-se em seguida e foi embora. Não continha mais suas lágrimas.... Mas o rosto já se acostumara a elas...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A chuva não cessava e seu coração começou a bater acelerado. Uma angústia tomou conta do seu ser e uma idéia súbita e sombria lhe passou pela mente. Será? Avistou ao longe um mirante. Sentia-se compelida a ir até lá, como se algo a chamasse. Foi...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Ninguém a olhava, sequer percebiam a sua existência... Foi subindo os degraus bem devagar, como se tivesse que cumprir um ritual.... Sua cabeça doía, como se algo a estivesse esmagando. Náuseas tomavam conta dela e as vertigens pareciam aumentar a cada passo que dava. Não poderia voltar mais. Era importante ir até o fim.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Chegou finalmente no topo, o lugar mais alto que já estivera na vida. De lá pôde ver a cidade inteira. Fixava seu olhar em vários pontos por alguns minutos e divagava... Tudo era intenso dentro dela. Sofria de excesso sempre lhe disseram, mas o excesso era tudo o que tinha de melhor em si mesma.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A noite chegara e a chuva não cessava. Seus olhos brilhavam ao ver a cidade iluminada. Aquela imensidão de luz a atraía cada vez mais... Queria fazer parte dela! A chuva aumentava, molhava seu rosto, seu corpo rodopiava de felicidade. Ela nem sabia o que era felicidade. Só sentiu que era bom estar no alto e enxergar de lá toda a cidade brilhando, reluzente, única. Enfim sua... Sua cidade! Agora descobrira também o que era alegria. Ria... ria... e seu sorriso pela primeira vez era verdadeiro. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Depois da euforia inicial, aproximou-se das grades que a protegiam, olhou para baixo, depois para o céu escuro... Foi um olhar lento e demorado..... Seu corpo virou-se, mas já não queria enxergar mais nada... Nem cidade... Nem luzes brilhando.... Seus lábios ainda sorriam como se estivesse agora completa. Tocou levemente nas grades, segurou-as com firmeza e resolução. Eram baixas e nelas se encostou para receber a chuva que não parava nunca... As grades já não a protegiam mais de perigo algum, nem dela mesma... O medo dissipara-se por completo. Aos poucos, tudo fora se tornando insignificante diante de sua mais importante decisão. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
</div></span><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Olhou para o céu uma última vez e já não viu estrelas... Em um instante precipitou-se no ar de braços abertos. Poucos momentos de felicidade tivera, mas enfim descobrira o seu destino...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-63230997298381989772011-02-08T06:47:00.001-08:002022-05-03T15:23:31.204-07:00REENCARNAÇÃO<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="cssfloat: left; font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"> <img border="0" height="350" j8="true" src="http://1.bp.blogspot.com/-rP4dP_T15l4/TcM2eZ_urlI/AAAAAAAAAD4/5-d_hZ3zEpk/s400/espelho.bmp" width="400" /></span></div><br />
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<br />
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Ao sair de casa para comprar alimentos e também algumas futilidades (não consigo viver sem as futilidades do dia a dia), vi algo que me perturbou... Me deixou sem voz, sem reação. Um cão estava ali, na minha frente, estendido, ferido, morto. </span></div></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Não pude seguir adiante, parei, observei seu estado e ali permaneci nem sei por quanto tempo... Talvez minutos, horas. Não sei...</span></div></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-rP4dP_T15l4/TcM2eZ_urlI/AAAAAAAAAD4/5-d_hZ3zEpk/s1600/espelho.bmp" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Ao olhar o cão, tão magro, tão desprezível por todos que ali passavam, não tive nojo, não tive receio de me aproximar dele. Algo me chamava... Percebi no cachorro características humanas já não mais reconhecidas porque nos perdemos procurando ser o que é sempre mais conveniente para os outros. E eu? EU? Eu? Deixei... Deixei que me levassem, sem ao menos reclamar, sem nem mesmo me importar com rumo que as coisas tomariam, porque eu existia e alguém sempre me diria tudo o que deveria fazer, me mostraria o caminho certo a seguir.</span></div></div></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Agachei-me, toquei no material inerte, mas não adiantava falar nada... Fazer nada... Ninguém ouviria... Ninguém entenderia o amor que eu sentia pelo bicho quase em decomposição... . </span></div></div></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Sem querer, transportei-me para o passado que há anos eu recusara, que eu negava a existência como se tivesse vivido por outra pessoa. No entanto, naquele momento eu não podia fugir... O cão me forçava a recordar... E eu me permiti... Pela primeira vez eu me permitia algo...</span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Eu, eu, e as marcas em mim que jamais se apagarão. Revivi cada instante dolorido, com o prazer de um sádico. Eu acabara de descobrir que era um acaso na vida e que insistia em viver. Eu fora a vergonha escondida por longos anos, o fruto do erro, a rejeitada no ventre, a infeliz desde o início sem saber o motivo. Eu que sempre buscara um sentido mas não achava. Eu que sempre questionei: Onde me encontrar? Onde começar a me tornar um SER, uma PESSOA. Como saber quem sou eu, se não sei o que é ser eu?</span></div></div></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> O cão estava com olhos abertos e pareciam me fitar... Me dizia que vale a pena viver, embora ele já não possa. Seus olhos ultrapassavam minha mente, meu corpo; enfim, causavam-me um certo desconforto... </span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Foi então que reparei em seus dentes: tão brancos, tão perfeitos, entreabertos... Nada neste mundo poderia ser tão perfeito como os dentes daquele cão, que pareciam sorrir para mim.</span></div></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Ele estava morto, tão morto como eu quisera tantas vezes e como em certos momentos ainda desejo. Eu e o cão estávamos ali, ambos mortos, ele com o corpo mortificado, eu com minha alma inquieta, com uma ferida que não sara, sangra e dói...</span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Num ímpeto, tive vontade de pegá-lo, de abraçá-lo e de dar a ele o carinho que certamente não teve. Não tive coragem... O que pensariam as pessoas, que já me olhavam assustadas com minha atitude? Sempre elas... Sempre o comedido, o equilíbrio acima de tudo, o aceitável, a aparência...</span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"> Vi o animal atentamente mais uma vez. Amanhã não estaria mais ali, certamente deveria ser levado e jogado em algum buraco distante, sem que eu soubesse onde. Ao olhá-lo pela última vez, nossos olhos se encontraram, lágrimas rolaram em meu rosto e eu enfim compreendi: o cão era eu.</span></div><span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif;"></span>Tania Barros<br />
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<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><br />
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<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; text-align: justify;"><br />
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<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"></div></div><div class="separator" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; clear: both; text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-rP4dP_T15l4/TcM2eZ_urlI/AAAAAAAAAD4/5-d_hZ3zEpk/s1600/espelho.bmp" imageanchor="1" style="cssfloat: right; height: 267px; margin-left: 1em; margin-right: 1em; width: 321px;"></a></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-33927531222289463472011-02-08T06:36:00.001-08:002022-05-03T15:24:38.936-07:00A CHEGADA<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; clear: both; text-align: center;"><br />
</div><a href="http://1.bp.blogspot.com/-IF3NexeRiRk/TcMyO_pPy1I/AAAAAAAAADs/gS56KQ_w4bg/s1600/i..jpg" imageanchor="1" style="cssfloat: left; height: 279px; margin-left: 1em; margin-right: 1em; width: 221px;"><img border="0" height="320" j8="true" src="http://1.bp.blogspot.com/-IF3NexeRiRk/TcMyO_pPy1I/AAAAAAAAADs/gS56KQ_w4bg/s320/i..jpg" width="306" /></a><br />
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não pude evitar o desconforto que senti quando soube que ela chegaria em breve. Eu não queria vê-la. Depois de tanto tempo, não era o momento para eu encarar mais essa situação. Não sei por que essa insistência em vir até mim justamente agora. Preocupação, culpa talvez? Culpa minha ou dela? Não. Não é culpa minha. </span></div></div></div><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Algo está me incomodando e rejeitando essa presença que eu sei que virá. Chegou finalmente minha hora de rejeitar? Será isso? Será apenas um ato vingativo?</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Nada mais temos a falar, não temos quase nada em comum a não ser a semelhança física contatada a cada vez que me olho no espelho. Nos conhecemos, apenas. Não quero estreitar nenhum tipo de relacionamento. O momento para isso já passou. Nas minhas palavras sinto rastros de raiva contida por muito tempo, de desejos sempre reprimidos, de vontades sempre escondidas, de sonhos acalentados, de palavras sempre silenciadas... Tudo deve continuar exatamente assim.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Não posso impedir essa chegada, mas posso comandar minhas atitudes e já sei que serei dura, inflexível. Ás vezes me pergunto: por que tanta dureza? Talvez tenha sido a forma mais fácil que encontrei para sobreviver, de não sentir tanto amor porque o amor me desmorona, o amor me fragiliza. Com ela tudo é diferente... Não quero... Não consigo. Um simples toque me atemoriza, me paralisa, me atormenta. Posso até tentar, mas tudo soa falso em mim, como a família que eu pensara uma vez ter tido. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Ele também vem, mas apesar de sua ausência na minha infância inteira, guardo carinho de sua parte; parece que sinto suas mãos segurando as minhas até eu dormir. Seriam as dele ou as dela? Eram dele, eu sei. Lembro dos presentes que recebia a cada nova viagem... Ele sabia compensar sua ausência! Minhas lembranças em relação a ele são boas, mas tão poucas... O tempo que passamos juntos foi sempre de eterna compensação. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Eles chegariam em breve e não haveria tempo para preparação. Só o grande enfrentamento, o enfrentamento dos meus medos e o controle dos meus rancores. Era preciso controle, mas eu não tinha mais controle sobre nada, muito menos naquele momento e ainda mais sobre minha personalidade. Sempre detestei essa palavra: controle, equilíbrio. Parece que todos ao meu redor resolveram me ajudar a tornar-me uma pessoa equilibrada. Assim, finjo. Não me desgasto. Minto, minto com tanta vontade que até eu acredito. Faço o querem, digo o que querem, mas penso o que quero. O pensamento é só meu, único e exclusivamente meu e nele eu sou livre, livre.... Sempre desejei ardentemente a liberdade das palavras. A violência em que podem ser ditas e seu poder de desmascarar, de machucar, de causar danos irreparáveis... Era isso. Era o que eu mais desejava. Arrancar de dentro de mim aquelas palavras sufocadas, nunca ditas, sempre guardadas como segredo só meu e que serviam apenas para me ferir. Nesse momento sinto a necessidade de ferir também, talvez seja eu mesma que necessite disso para que haja libertação da minha alma. Não sei se algum dia saberei.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Hoje é o dia, bem pouco esperado. Eu estava agitada demais... A casa não fora limpa e nem sequer arrumada. Tudo estava exatamente no mesmo lugar, como se não esperasse ninguém. Para mim seria a visita de fantasmas que me assombram.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Ouço ruídos lá fora e percebo que não há mais como fugir... Finjo que não ouço, tento enganar-me, mas em vão... Eles acabam de chegar.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Como eu queria desaparecer naquele instante, ir para outro lugar... Longe dali... Longe deles... Longe de mim... Longe de mim... Me deixassem em paz, era isso que eu queria. Eu só queria paz. Mas não, a presença era sempre marcante... Até a voz ao telefone. Ela mais me incomodava. Nada pedia, comandava tudo, mandava em todos, na vida de todos, no trabalho de todos, até no desejo de cada um de nós.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Levantei-me lentamente, coloquei o velho sorriso falso no rosto e fui recebê-los. Tudo sempre igual: a conversa de sempre, os elogios de sempre, as críticas feitas superficialmente, mas com requintes de crueldade, aprendida durante longos anos de prática.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Nada mudara. Só dentro de mim eu sentia forças incapazes de suportar por muito tempo aquela situação. Abracei meu pai e demos os cumprimentos de sempre, frios, ensaiados. Um grande espetáculo! Chegou a sua vez e foi ela mesma que se aproximou, sempre imponente.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> A dona da minha vida chegara. </span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Naquele momento senti tanta pena dela e mais ainda de mim mesma. O que estávamos fazendo conosco? Abracei-a com um esforço descomunal, mas logo um embrulho no meu estômago que quase me fez vomitar ali mesmo. Não suportava o cheiro dela. Não era um cheiro desagradável, mas era cheiro de mãe... A náusea aumentava e eu logo inventei a desculpa dos medicamentos. Eles sempre me salvaram...</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Durante a sua presença, evitamos qualquer tipo de aproximação mais íntima, qualquer declaração de afetividade. Estávamos acostumadas a isso. Não haveria motivos para estranheza. Eu não suportava a ideia de sentar-me ao seu lado, sentia repugnância por tudo o que sua presença representava pra mim. Mas suportava. Arduamente eu suportava... As conversas eram sempre as mais triviais possíveis. Eu não queria me entregar... Eu não podia fracassar e me mostrar. Ela não me entenderia. Era tarde agora. O tempo tinha levado embora qualquer resquício de possível aproximação entre mãe e filha. O que aliviava era saber que a visita seria bem curta.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Quando ficávamos sozinhas, os assuntos eram os piores possíveis e sempre aquele vazio entre um fato e outro. Acabávamos nas futilidades do dia a dia, pois elas são extremamente necessárias em algumas ocasiões. Por que não conseguíamos? Eu sentia vontade, mas algo me impossibilitava... Eu desejava abraçar de verdade, sentir amor verdadeiro por ela... Ações nunca realizadas, palavras que nunca foram ditas. Sempre caladas. Não consegui, nem ela. Não adiantava mais. Éramos estranhas num mesmo local. O destino se encarregou de nos fazer mãe e filha, mas só nos restavam os tais laços de sangue, mais nada... Nem estes foram capazes de romper o silêncio de anos.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> O que poderia ser feito? Ambas decidiram se calar para sempre. Ambas entenderam que não precisavam de palavras, pois nos compreendíamos pelo olhar, olhar este que evitávamos o tempo todo porque ele denunciava o quanto éramos diferentes. O olhar sempre nos entregou... Ela também se enganava. Isso me satisfazia. A dor não era só minha.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Decidiram ir embora antes do previsto, não posso negar o alívio que senti... Mais uma vez o abraço final, sem emoção alguma, sem dor pela partida, sem saudades posteriores e sem remorsos... Naquele momento, nós duas concluímos que jamais poderíamos fazer o tempo voltar. O que nos unia era apenas o silêncio, que aumentava dentro de cada uma enquanto o carro partia. Nem um adeus acenado, nem uma lágrima derramada, nem um olhar para trás... Só nos restavam lembranças... </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"> Que eram melhores se esquecidas.</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Tania Barros</span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span> </div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
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</span></div><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />
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</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5099071959272620607.post-1566104766167200682010-12-12T13:18:00.001-08:002022-05-03T15:24:49.775-07:00ATRAVESSANDO A RUA<div style="text-align: justify;"><div class="separator" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-t3mFAenBmhQ/TcMw6j9xEkI/AAAAAAAAADk/9tiN-nJrUlA/s1600/atravessando+a+rua.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; cssfloat: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" j8="true" src="http://3.bp.blogspot.com/-t3mFAenBmhQ/TcMw6j9xEkI/AAAAAAAAADk/9tiN-nJrUlA/s1600/atravessando+a+rua.jpg" /></a></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Caminhava depressa, descompassadamente como se tivesse que chegar logo a algum lugar. Que lugar era esse? Nem eu mesma sabia.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A única vontade era aumentar cada vez mais os passos e não olhar os transeuntes que me tocavam sem querer, outros com certa brutalidade pois eu estava atravancando o caminho. Qual caminho? O meu ou o deles? Acredito que o de ambos.</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As pessoas me pareciam vultos sem rosto, fantasmas percorrendo as ruas. Debatiam-se umas nas outras como animais. Em que momento de suas vidas perderam a ternura? Quando eu havia perdido a minha? Eu não era nada diferente...</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As calçadas pareciam que iam aos poucos desaparecendo, fragmentadas, esburacadas, virando cacos apenas... E Eu? Eu pisava no vazio. Eu flutuava em meio às pedras.</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Olhei para o céu e ele já começava a ficar escuro. A noite estava chegando. Agora já não era só a agitação diurna que me incomodava, mas também os ruídos estrondosos dos veículos que se amontoavam entre buzinas ensurdecedoras nas estradas.</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As luzes da cidade se intensificavam cada vez mais e eu observava que todos corriam desesperadamente para seus lares, para suas famílias, para alguém que os aguardava no final de um dia intenso de trabalho. Bem, pelo menos era isso que eu pensava naquele momento. Era exatamente o que eu pensava ou era o que eu queria que acontecesse comigo? Perguntas... perguntas... Já antevia a resposta, mas ela me amedrontava.</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu não tinha para onde ir ou não queria voltar para minha solidão? Ninguém me esperava em casa. Eu era sozinha em meio à multidão.</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um ideia me veio à cabeça e eu me apressei mais ainda, quase corria, agora. Era preciso chegar a tempo...</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Os pensamentos estavam ficando cada vez mais embaralhados e eu não conseguia colocar em ordem todos os fragmentos de mim mesma. Em poucos minutos todas as sensações possíveis me invadiram e eu só sentia o dever se aproximando. Não podia mais... Não adiantava mais... Não dava mais... Eu tinha que atravessar a rua. </span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Parei. Suspirei. Olhei para todos os lados. Vi de relance o reflexo do que deveria ser eu na vitrine de uma loja. Reparei fixamente no semáforo. Esperei o sinal abrir e ... Fui....</span></div><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><div style="text-align: justify;"><br />
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</div><div style="text-align: justify;">Tania Barros</div><br />
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</div>Unknownnoreply@blogger.com0