domingo, 12 de dezembro de 2010

ATRAVESSANDO A RUA

Caminhava depressa, descompassadamente como se tivesse que chegar logo a algum lugar. Que lugar era esse? Nem eu mesma sabia.

A única vontade era aumentar cada vez mais os passos e não olhar os transeuntes que me tocavam sem querer, outros com certa brutalidade pois eu estava atravancando o caminho. Qual caminho? O meu ou o deles? Acredito que o de ambos.

As pessoas me pareciam vultos sem rosto, fantasmas percorrendo as ruas. Debatiam-se umas nas outras como animais. Em que momento de suas vidas perderam a ternura? Quando eu havia perdido a minha? Eu não era nada diferente...

As calçadas pareciam que iam aos poucos desaparecendo, fragmentadas, esburacadas, virando cacos apenas... E Eu? Eu pisava no vazio. Eu flutuava em meio às pedras.

Olhei para o céu e ele já começava a ficar escuro. A noite estava chegando. Agora já não era só a agitação diurna que me incomodava, mas também os ruídos estrondosos dos veículos que se amontoavam entre buzinas ensurdecedoras nas estradas.

As luzes da cidade se intensificavam cada vez mais e eu observava que todos corriam desesperadamente para seus lares, para suas famílias, para alguém que os aguardava no final de um dia intenso de trabalho. Bem, pelo menos era isso que eu pensava naquele momento. Era exatamente o que eu pensava ou era o que eu queria que acontecesse comigo? Perguntas... perguntas... Já antevia a resposta, mas ela me amedrontava.

Eu não tinha para onde ir ou não queria voltar para minha solidão? Ninguém me esperava em casa. Eu era sozinha em meio à multidão.

Um ideia me veio à cabeça e eu me apressei mais ainda, quase corria, agora. Era preciso chegar a tempo...

Os pensamentos estavam ficando cada vez mais embaralhados e eu não conseguia colocar em ordem todos os fragmentos de mim mesma. Em poucos minutos todas as sensações possíveis me invadiram e eu só sentia o dever se aproximando. Não podia mais... Não adiantava mais... Não dava mais... Eu tinha que atravessar a rua.

Parei. Suspirei. Olhei para todos os lados. Vi de relance o reflexo do que deveria ser eu na vitrine de uma loja. Reparei fixamente no semáforo. Esperei o sinal abrir e ... Fui....



Tania Barros




















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