terça-feira, 3 de maio de 2022

Escrevo sem saber o que dizer. E por não saber o que dizer, escrevo. Liberto-me nas palavras, pois é a única liberdade que conheço. Lá fora chovia torrencialmente e o frio estava insuportável. Eu não podia mais faltar ao trabalho, mesmo que essa fosse a minha maior vontade. Lentamente levantei, me arrumei, peguei meus materiais, o guarda-chuva e saí. Era preciso dar continuidade à vida. Era preciso coragem e eu covardemente fui. Enquanto caminhava, deixava que alguns pingos de chuva caíssem em mim e me lembrassem que eu ainda estava viva. Meus passos não eram firmes há muito tempo, eles vacilavam a cada instante como se me levassem para uma prisão. A vida não poderia ser o acordar, levantar, trabalhar e voltar para casa... Não poderia ser uma sucessão de acontecimentos diários que quase não tinham  significado... A vida não podia ser o aguardar a semana e a ânsia pelo sábado e domingo. Talvez fôssemos todos Sisífos e essa era nossa grande tragédia. Há sempre  as perguntas sem respostas e as dúvidas que só aumentam. Há sempre o perigo de não poder mais voltar. Há sempre o medo de descobrir que a grande pergunta só pode ser respondida por você. Há sempre o temor de já se saber a resposta e adiá-la por uma vida inteira. Os relógios pareciam ter parado porque cada minuto parecia um dia perdido.



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