sábado, 11 de agosto de 2012

Ela,

Ela acordou cedo como todos os dias e foi trabalhar. A manhã passou como se o tempo estivesse suspenso. Na mente aquela vontade de fugir dali, de sair correndo sem rumo ou de gritar, gritar tão alto que seria ouvida. O que gritaria? Não importa. O grito é que era urgente. O grito seria a sua manifestação de desespero, de contrariedade. O grito, talvez, a libertaria. Não era a liberdade dos compromissos corriqueiros que ela desejava. Ela queria mais. Ela ardia por libertar-se de si mesma. Enfim, acabara as horas do disfarce e enfim voltava para casa. Ansiava por abrir a porta e encontrar um espaço em que poderia ao menos tentar tirar as máscaras e tentar ser ela própria. Mas quem era ela? Quem era aquela mulher que se olhava no espelho todos os dias e não se reconhecia? Sentia novamente aquela sensação de não pertencer ao mundo. Ahhhh, ela queria tanto pertencer! Ela queria tanto parar de pensar e ver as coisas simples com alegria. No entanto, todo o seu ser estava tomado de uma profunda tristeza, de um cansaço inominável. Era cansativo insistir. Era dolorido viver e apesar disso, ela vivia. Ela vivia. Ela insistia.  A casa pedia uma arrumação, mas o que ela desejava era organizar-se por dentro. Tomou um banho quente, deixando a água escorrer pelo rosto com força e pelo corpo com delicadeza. Ela apreciava o desequilíbrio, as contrariedades, os opostos... Depois, colocou o velho pijama e andou pela casa como se a desconhecia. Não tinha fome. Não de alimentos. Sua fome era de vida.. Ela desejava, desejava... Tinha um vulcão dentro de si. Como acalmá-lo? Como não fazer com que transborde sem nem um aviso, assim... de repente? Tinha conseguido até agora. Ou tinha sempre fingido? Fingir tornou-se sua melhor virtude e seu melhor disfarce. Até quando? Tudo começava a pesar. Carregava o peso de ser. Mas o que era? Enfim, tomou a decisão. Foi até o quarto, pegou os comprimidos e logo sentiu-se anestesiada. Iria dormir por horas e os pensamentos seriam silenciados. Seu corpo se acalmaria, o coração pararia de bater acelerado e a dor seria por horas esquecida. Tudo recomeçaria, ao abrir os olhos. Porém, agora, eles estavam fechados para o mundo.

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